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VISIONI ORIENTALI
exposição de telas e video de Cesare Pergola
de 16 agosto até 16 setembro 2009

Ele foi professor de arquitetura de 2001 até 2006 em Bangcoc, Tailândia. Neste período fez um trabalho de pesquisa artística sobre a cultura e as tradições locais tailandesas,trabalho que se concretizou na produção de telas e vídeo apresentados em uma exposição naquela cidade em 2005.
O trabalho pictórico focaliza principalmente os lutadores de MUAY THAI, o box tailandês. Depois, em uma viagem a Tóquio o artista também se aproximou de lutadores de SUMÔ, que filmou e fotografou para depois pintar em outras telas
Esta exposição contém uma seleção de telas e vídeo realizados durante os últimos 5 anos.
O artista utiliza como técnica óleo sobre tela, buscando que a técnica pictórica alcance uma expressividade do tipo neo-futurista.

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VISIONI ORIENTALI: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO CRIATIVO
de Percival Tirapeli - vice presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte.

À primeira vista, as pinturas de Cesare se nos mostram estranhas. Um mundo diferente surge em pinturas dinâmicas, distantes - mais visão que realidade, apesar da figuração de corpos em luta. Esta distância diminui quando invocamos o intercâmbio das artes oriental com a ocidental iniciado nos finais do século XIX e disseminado no inicio do seculo modernista.

Primeiro a abolição da perspectiva renascentista, praticamente inexistente nas telas de Cesare. Segundo, as grandes zonas abstratas ou limpas das gravuras japonesas. Por fim, as pinceladas de forma caligráfica da escrita oriental que, mesmo disassociada da pintura dinâmica futurista italiana, aqui se unem. Acaso ou não, ares do oriente com o ocidente se conjugam, talvez fruto inconsciente da experiencia visual de um mundo distante mas não impossível para a expressão artística.

Esforço maior nos é solicitado quando nos concentramos nestes corpos ora volumosos de japoneses lutadores de sumô, ora esguios dos tailandeses na luta muay thay. Se acima evocamos a maneira de fazer as obras – perspectiva, pinceladas e caligrafia – podemos apontar agora aproximações temáticas de lutadores de boxe que se golpeiam, ou lutas da antiguidade que apontam o heroísmo expresso nos corpos másculos. Ainda, a arte conceitual de Ives Klein, lutador profissional de artes marciais orientais, que canalizou sua inspiração do uso do corpo na regência de happenings com corpos azulados femininos.

A obra de Cesare situa-se neste intermezzo heróico entre historicidade e o conceitual da posmodernidade. O próprio artista se designa pós futurista na pincelada, e eu acrescentaria que também o posfuturismo busca a essência do movimento espiritualizado, desprendido da energia dos gestos dos lutadores de sumô. Aquela energia por vezes glorificada pelos futuristas como Balla, Carrà e Boccioni - presente tanto no ato simplificado do andar até o destrutivo de uma granada - na obra de Cesare, em seu pós futurismo, busca a energia desprendida da aura destes homens semi endeusados pela sociedade nipônica, ora ligada as tradições, ora impulsionada pela tecnologia ilimitada.

Aqui podemos inserir o processo criativo de Cesare. Livre do uso do desenho tradicional, ele parte da fotografia digital com cortes bruscos compositivos à  maneira de Degas e Lautrec com as dançarinas, e as assemblagens de Rodin. Assim como na pós modernidade, esse tipo de enquadramento foi usual no hiperrealismo. Cesare pode ser hiperrealista tanto na maneira de criar quanto na técnica pictórica.

A exposição se amplia conceitualmente porque o artista volta seu olhar para a luta da Tailândia. Também é fruto de pesquisa visual fotográfica e do envolvimento com a aproximação dos corpos masculinos, nesta luta que de certa maneira se aproxima da capoeira afro brasileira. Difere porém dos corpos esculturais dos lutadores de sumô que ocupam áreas de destaque nas composições pictóricas, engrandecendo tanto a luta como a realidade dos corpos formados para determinado fim. Na luta muay thay, os jovens estão deslocados do centro, recortados ou mesmo nocauteados pelos seus pares vulgarizados. Esta segunda série tailandesas difere diametralmente da nipônica. Os jovens se encontram em local não circunstanciado – a corda que limita o circulo do sumô – e os jovens tailandeses que se aproximam em golpes passivos como requer as regras do jogo. A percepção de Cesare ao retratar estes jovens quase marginalizados da sociedade, em contraposição daqueles divinizados pelos costumes, faz da exposição uma experiencia não apenas pictórica,mas também humana.

O olhar e o fazer artístico ganham universalidade, embora retratem lutas estranhas aos nossos costumes. Reside aqui o valor da arte, da representação do estranhamento, caro à posmodernidade que aproxima as experiencias díspares - o olhar de Cesare sobre as lutas nos é revelado pela historicidade da pincelada  futurista. E é, designado pelo próprio artista, pós futurista, construindo assim uma ponte visual-conceitual plena de vitalidade entre oriente e ocidente.

Paraty, inverno de 2009.