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TERRA MAGAZINE- CULTURA
Quarta, 13 de abril de 2011

A luta corporal de Cesare Pergola

por Claudio Leal

As lutas marciais e seus simbolismos marcam a exposição do pintor italiano Cesare Pergola, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, a partir desta quinta-feira, 14, sob curadoria do escultor Emanoel Araújo.
Nascido em Limosano, Itália, em 1955, e radicado na cidade de Paraty, Pergola trabalha com a temática há oito anos, inicialmente movido pela fotografia, na temporada em que deu aulas no Instituto de Design de Bangcoc, na Tailândia. O curso estava cravado num templo budista. A uma distância nada sagrada, a academia de Muay-Thai despertou seu interesse pelo movimento dos corpos.
- Comecei a frequentá-la. Nunca tive interesse por esporte nem por lutas, mas ali tinha um prazer estético para ser fotografado. Depois eu fiz uma viagem a Tóquio e consegui entrar numa academia de sumô. Eu acho que essas formas de luta têm uma raiz erótica, uma sensualidade, os dois corpos que se tocam. Essa sublimação da agressividade humana vira uma expressão da humanidade.

Em Paraty, o inquieto Cesare mantém a galeria "Belvedere" com o restaurador Michelangelo Rossi. Pela primeira vez, ele vai expor no Brasil seus estudos de corpos em movimento. A pintura é um acúmulo dos caminhos abertos por suas aventuras na arquitetura, no teatro, no design e na arte digital.
- Não tenho uma escola de pintura. Sou arquiteto, mas não tradicional. Sou interdisciplinar.

Viveu em Florença os anos fundamentais de sua formação. Aos 18 anos, Cesare liderou um grupo de artistas. Sorri ao fazer uma confissão: "Naquela época, eu vendia mais quadros do que agora".
Seus estudos arquitetônicos priorizavam os aspectos sensoriais, quase proustianos, de Florença - os perfumes, os cheiros, a percepção tátil da urbis. Em 2001, ele expôs "A cidade dos sentidos", grande painel de arte digital, "uma aplicação de toda tecnologia de desenho arquitetônico no sentido artístico".
Apesar da influência inevitável do Renascimento, Cesare Pergola embebeu-se de Mondrian e Francis Bacon.
- Gosto muito de Francis Bacon e Lucian Freud. A pesquisa do corpo, das deformações, me interessa bastante. Na pintura figurativa, procuro uma linguagem contemporânea, seja na forma, seja na pincelada.

Pela inconstância dos golpes marciais, os quadros em óleo de Pergola nasceram da fotografia. "Não tem modelo, é um momento. Praticamente não desenho. Quer dizer, desenho no computador e depois transfiro para a tela", explica. O equilíbrio das cores vem com o auxílio de uma espátula - "para espalmar a cor, tirar a cor, atenuar um tom agressivo da pincelada". De gestos duros e vibrantes, ele precisa de um suporte rígido para a pintura.
Além do sumô e do Muay-Thai, o pintor representou em seus quadros a indígena Huka-Huka, a capoeira e os lutadores de Angola. E começa a pensar numa futura série sobre os lutadores no tempo, algo mais mitológico, com leituras religiosas e históricas.
- No Brasil, só apresentei meu trabalho em Paraty, na minha galeria. Mas era uma coisa regional. A exposição no Museu Afro Brasil é uma grande oportunidade de ter uma ressonância nacional. São Paulo é um dos pólos da arte contemporânea.
Cesare Pergola | Artista interdisciplinare
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